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É preciso reabrir as escolas

setembro 18, 2020

O cálculo do número de mortes que acontecem numa pandemia não nos permite esquecer a dor e a tragédia de cada existência perdida, mas é necessário conhecê-lo para compreender melhor o que acontece e como evitar uma maior perda de vidas. Michael Levitt, professor de Stanford e Prêmio Nobel de 2013, é o cientista que mais e melhor estudou os números da Covid-19.

Desde o início do primeiro surto epidêmico na China, Levitt vem dedicando a maior parte do seu tempo, de forma incansável, para desvendar as informações que os números da pandemia escondem. Até por isso ele é um dos que mais contesta as projeções apocalípticas dos pesquisadores do Imperial College, a instituição inglesa que convenceu a maioria dos governantes europeus de que teríamos uma das mais mortais epidemias da história, que levaria a dezenas de milhões de mortes.
Para enfrentar tal catástrofe, o Imperial College propôs que deveríamos fechar o mundo numa longa quarentena de no mínimo 18 meses, até a descoberta de uma vacina. Essa tese absurda, que quebrou a economia ocidental, nunca se baseou em evidências científicas e sequeR foi comprovada em algum lugar. Levitt denuncia isso com muito vigor.

+ ASSISTA: Michael Levitt critica resposta “vergonhosa” da ciência à pandemia
Entre os dados que apresenta existe uma verificação simples e reveladora para avaliar os danos da Covid-19. Levitt compara a mortalidade geral de cada país (por todas as causas) que ocorre a cada ano, para avaliar o acréscimo nos óbitos causado pela pandemia em 2020. Na verdade, este aumento é a chave para entendermos como a pandemia altera a mortalidade, para avaliarmos a diferença, o dano maior, que fez ao acontecer.

A contabilidade apocalíptica do Imperial College previu que morreria, durante essa pandemia, o equivalente ao dobro do número de mortes previstas para 2020. Assim, estabeleceu a tese do equivalente a um ano de mortes a mais, causada por influencia direta da Covid. Levitt mostra que o Imperial College errou feio. Ele demonstrou que o número de mortes a mais da epidemia, no ano de 2020, equivaleria não a um ano mas, no máximo, a um mês na média anual. Portanto doze vezes menor!
Comparando 2020 com 2019, noutro aspecto interessante da sua análise, Levitt demonstra que na Europa ocorreram as mortes de 153.006 pessoas durante o surto da Covid-19, por doenças respiratórias agudas graves (SRAG). O número pode ser comparado com as mortes de 133.198 pessoas por SRAG em 2018, num surto de gripe influenza. Assim, foram 19.808 mortes em excesso em 2020, e não 153 mil! E em 2018 não foram decretados lockdown nem quarentena.
O mesmo fenômeno ocorre no Brasil se compararmos, em todo o país, o número de mortes a maior em 2020 com as ocorridas em 2019. Nos primeiros oito meses de cada ano, veremos que as mortes de 2020, no conjunto do país, excedem as de 2019 no equivalente a três semanas de óbitos. Portanto, confirmam a tese de Levitt e desmentem o Imperial College. Fonte: Transparência Registro Civil

Também são surpreendentes os dados do EuroMoMo (Observatório Europeu de Monitoramento da Mortalidade), quando há a estratificação por faixa etária. Ao fazer isso, descobrimos que na faixa de 0 a 14 anos de idade não houve qualquer aumento no número de mortes no período da Covid-19, pelo contrário, ocorreu uma diminuição de mortes de crianças e adolescentes em 2020 comparando aos anos de 2019, 2018 e a 2017.
Logo, o risco das crianças terem uma infecção grave que as levasse ao óbito foi maior nos anos anteriores do que em 2020. E as escolas não estavam fechadas nos anos anteriores. Por que então foram fechadas as escolas?! Essa realidade muda nos gráficos comparativos à medida que a faixa etária aumenta.

Fonte: EuroMoMo
Quanto ao risco de aumentar o contágio em razão da abertura das escolas, queremos fazer duas considerações. O risco de contágio de crianças em sala de aula nos países que não fecharam, ou que reabriram as escolas mais cedo, não está sendo maior do que naqueles onde as crianças estão fechadas em casa. Manaus, que já retornou às aulas presenciais há mais de um mês, não registra aumento do contágio na comunidade escolar. Veja a seguir os estudos comparativos entre Suécia e Finlândia, na Alemanha, Suíça, Austrália e Coreia do Sul.
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Comparação entre Suécia e Finlândia

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Estudo divulgado por Alessandro Loiola

A Academia de Pediatria dos Estados Unidos mostra que não aumenta o risco de contágio da Covid-19 com as crianças em sala de aula, desde que se tomem os cuidados básicos de distanciamento, higiene e proteção individual. A OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que congrega os países desenvolvidos, revela que o Brasil está entre os países que fecharam as escolas por maior período.
A média de tempo das escolas fechadas nos países do grupo foi de 14 semanas (o tempo médio de duração das curvas de contágio do vírus). No Brasil, na maioria dos estados, já passa de 20 semanas!
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Na epidemia do H1N1, em 2009, quando o Rio Grande do Sul estava no epicentro da epidemia, nós tínhamos as crianças como grupo de risco e, mesmo assim, reabrimos as escolas em plena epidemia, pois elas estavam se contaminando mais fora das instituições do que dentro.
Agora, na Covid-19, as crianças não são grupo de risco, como mostram dados dos outros países e do Brasil. Mais um motivo para as escolas serem reabertas imediatamente – aliás, nunca deveriam ter fechado. O risco que tem nessa epidemia, de contágio por qualquer infecção viral (incluindo a Covid-19) e de morte nas crianças, não é maior do que nos anos anteriores, quando as escolas funcionavam normalmente.

Escrevi este texto pensando nas crianças e em seus pais, que estão sendo assustados e não informados, dia e noite, pela mídia apocalíptica e, por isto, temem pela saúde de seus filhos. O temor que os pais têm precisa de refutação com dados e exemplos. É preciso explicar-lhes o risco real e acalmá-los. Hoje o contágio em casa é muito maior do que nas escolas e isso não será alterado com a volta às aulas.

E a cada dia que passar haverá menos casos da Covid-19, pois a epidemia está indo para o fim. Essa tendência não mudará com a volta às aulas como não mudou nos lugares onde as escolas já funcionam há mais tempo. A pesquisa sorológica feita pela prefeitura de São Paulo já vem mostrando isso.

É assim em todos os países do mundo. E a boa notícia é que as nossas crianças têm uma proteção natural muito maior que a dos adultos contra formas graves da Covid-19. O prejuízo intelectual ao qual estão sendo submetidas as crianças e jovens é enorme, incomensurável, e dificilmente será recuperado no futuro.

Cada dia sem aulas é uma pequena catástrofe no seu aprendizado, que tem um tempo ótimo para acontecer em cada faixa etária. Mais ainda para as crianças pobres, que não têm recursos para acessar à educação a distância, e que precisam mais do que nunca das aulas presenciais.
Por conta desse tipo de erro, o fechamento desnecessário das escolas, a desigualdade econômica, social e educacional vai aumentar muito no Brasil pós- pandemia. Voltemos portanto às aulas pelo bem das crianças, das famílias e do Brasil!