A minha resposta ao jornalista Ascânio Seleme que o jornal O GLOBO se recusou a publicar em formato de artigo, não dando o devido direito de resposta.
Há muito tempo que não lia da nossa imprensa um artigo tão raivoso e tão cheio de adjetivos ofensivos quanto o escrito pelo colunista Ascânio Seleme na edição do dia 16 de abril de O Globo. A imprensa que reage quando tratada de “sórdida”, é a mesma, que de maneira execrável, se dá o direito de atacar, sem dó, quem tem opinião divergente.
Contrário ao meu posicionamento sobre epidemia do COVID-19, ele nada argumenta com fatos ou evidências, simplesmente parte para me desqualificar como pessoa, como médico e como agente político. Não é papel da mídia impedir o debate, nem cercear opiniões contrárias.
O jornalista Seleme inventa um enredo que pouco condiz com a minha história profissional e de participação política. Para dar cores a sua maledicência, me acusou de “oportunista perigoso” e de ter sido de uma “irresponsabilidade absurda e criminosa” só porque não concordo com suas crendices sobre a epidemia. E por aí foi vomitando inacreditável lista de ofensas para concluir que faço tudo pela ânsia de poder. Afirmou ainda que sou um “ex-médico que fez carreira como sindicalista e político profissional e que sabe quase nada sobre medicina”. Sua agressão despropositada chega ao ponto mais alto quando diz que eu sou “um dos principais conselheiros do presidente”, a quem ofende como de costume.
Na medida em que progride o embate sobre caminhos para enfrentar o coronavírus, tenho recebido muitos apoios e colecionado opositores raivosos, mas nada se compara até agora como essa agressão, que encontrou respaldo nas páginas de O Globo.
Quero dizer ao “ilustre” jornalista Seleme que tenho muito orgulho da minha história pessoal, de 35 anos de vida pública, sem qualquer mancha ética ou moral! Deixei minha atividade como clínico bem sucedido para me dedicar à vida pública, onde entendi poder fazer muito mais para salvar mais vidas. Fui o gestor que implantou a base do Sistema Único de Saúde (SUS) no Rio Grande do Sul entre 1986 e 1988. Fui o primeiro prefeito do Brasil a criar as equipes de Saúde da Família no início da década de 1990. Implantei programas sociais de proteção aos mais pobres, tanto no Rio Grande do Sul quanto a nível nacional, trabalhando com o secretário nacional do programa Comunidade Solidária. Fui durante oito anos secretário de Saúde do Rio Grande do Sul, quando eu implantei os primeiros programas de promoção da Primeira Infância do país.
Nesse período, enfrentei várias epidemias que assolaram o Estado: dengue, febre amarela e a devastadora H1N1, que teve o Rio Grande do Sul como epicentro no Brasil. Como presidente do CONASS (Conselho Nacional dos Secretários de Saúde) tive oportunidade de participar na criação da Força Nacional do SUS e ajudar na grande epidemia de dengue do Rio de Janeiro, em 2007. Portanto, se tem alguma área que conheço e tenho experiência intensa foi na do combate a epidemias. Quantos dos que me atacam tiveram vivência semelhante?
Também fui ministro, duas vezes, e com muito orgulho zerei pela primeira vez na HISTÓRIA a fila do Bolsa Família e criei o programa “Criança Feliz”, que atende cerca de 1 milhão de crianças das famílias mais pobres, a domicílio, toda semana, em todo o país, iniciativa que foi reconhecida com o Prêmio Wise Awards de inovação em educação. Estou no sexto mandato de deputado federal pelo Rio Grande do Sul, sem nunca ter comprado um voto. Aos 70 anos, tenho muito orgulho da minha história e do legado que deixarei aos meus filhos. Não preciso de cargos para ajudar o Governo a construir caminhos para salvar mais vidas e melhorar a saúde dos brasileiros. Mesmo vitimado pela agressão desqualificada que sofri, estarei sempre disposto ao debate dos fatos e evidências para convencer ou ser convencido do que é melhor pra nossa gente. Nunca irei desqualificar o adversário, por pior que ele seja, para tentar impor a minha vontade ou opinião.
Quanto à acusação de apoiar o presidente Jair Bolsonaro porque estou atrás de cargos, devo dizer que ela parte sempre de opositores preconceituosos e arrogantes, que julgam os outros por si mesmos. Talvez, nunca entendam que se possa ajudar e torcer para um governo dar certo, sem ter a necessidade de um cargo. Até porque, para mim e para a maioria dos brasileiros, esse governo é a única chance que teremos, na próxima década, de mudarmos o Brasil para muito melhor, mantendo-o distante da pequenez política e da corrupção. Liberdade de opinião não é prerrogativa de jornalista. Numa democracia de verdade, ela tem que valer para todos.